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Sábado à noite

Por Cássia Alves

Chego em casa. Vazia, mais uma vez. Bom e ruim ao mesmo tempo. Saudades da casa cheia, do cheiro da comida da mamãe, mesmo que acompanhe a pergunta inevitável “Onde você estava até essa hora?”. Fome; e nada na geladeira… A solução é ter que sair novamente para comprar alguma coisa, ou então dormir com fome. Bom para emagrecer, triste emagrecer dessa maneira…

Esse jantar de lanche não satisfaz, mas alivia a fome. E agora, fazer o que? Vou tentar ler um livro, mas o barulho das crianças do vizinho me tira a concentração. A saudade do meu cantinho de leitura de outrora bate também… Mas essa hora eu não estaria lendo, se ainda estivesse por lá. As vantagens de não ter TV nem internet. Fecho a janela; o barulho diminui um pouco, suficiente para eu conseguir ler de fato.

Mais de duas horas da manhã. Horário desregrado; ainda sozinha em casa. Sábado à noite às vezes tem o poder de destruir seu ânimo, principalmente quando você resolve ficar em casa. O livro se tornou um companheiro enfadonho; a leitura não avança mais. Três vezes tentando ler o mesmo parágrafo até irritar. A solução é descer para fumar um cigarro.

Rua cheia, afinal, é sábado à noite. Mas é até agradável ver as pessoas andando à procura da diversão. Sorrio sem perceber, e até sinto vontade de encontrar minhas boas companhias, mas a noite hoje me reservou uma solidão pensativa. Caminho pela quadra do meu prédio, até o cigarro chegar ao fim. O céu está estrelado; a lua escondida nas poucas nuvens. Vento do inverno deixando o rosto levemente gelado.

Acendo outro cigarro. Não consigo deixar de apreciar a noite, mesmo ali sozinha. Penso no dia seguinte: ótima oportunidade de matar as saudades da tal casa da mamãe cheia de cheiros, sons e carinhos. Mas um bom lugar para se visitar, apenas. Para lembrar o quão bom é apreciar uma noite de sábado sozinha sem dor na consciência de estar em casa.

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